sábado, 16 de abril de 2011

Bar me tender.

Mesa de bar. Meu vizinho tamborila os dedos no balcão empoeirado.
São sete e meia, e meio coração me falta.
O motivo de vir aqui, caro bartender, não é diferente dos motivos dos outros.
Hoje eu chorei meu reservatório de lágrimas para causas que eu sabia serem perdidas.
Ele dança quando anda.
Ele flutua.
Ele flutuou para fora da minha vida com passos largos e apressados.
Outro carro o esperava lá embaixo e espero que seja o expresso para a felicidade.
Ele me deu o amor que eu merecia e eu dei a ele minha alma.
Na minha ida à biblioteca mais próxima, ótimo recanto de sonhadores perdidos, parei nesse bar.
A cor da parede é linda. Que cor é?
Azul cianureto.
Nome engraçado, não?
Será que se lamber suas paredes envenenarei qualquer resquício do que ainda sinto pelo dançarino?
Será que se beber essa dose de tequila, que agora tu me ofereces, esquecerei a ressaca de amanhã?
A ressaca do amor partido, do amor morto, do amor vivido.
Decidi entrar aqui pela cor da parede e pelo meu vizinho aqui.
Talvez alguém com menos esperança que eu me faça ver a metade do copo mais cheia.
Copos são feitos para serem vazios, vizinho?
Brindaremos então aos copos vazios do mundo.
Que eles continuem vazios como nossos corações deveriam estar.